segunda-feira, 9 de maio de 2011

No limite da incompetência – contrata esse mesmo!

Se não encontramos ninguém melhor do que ele, então contrata esse mesmo.”

 Infelizmente esta decisão vem sendo tomada com mais frequência do que poderíamos aceitar.

As notícias parecem promissoras. A capa da revista Exame de abril anuncia em letras garrafais: “Procuram-se 8 milhões de profissionais”. Fala-se do pleno emprego, definido na matéria como o “estágio em que a taxa de desemprego cai a níveis muito baixos e praticamente todas as pessoas qualificadas estão empregadas.”
Parece ótimo! Profissionais sendo disputados, muito trabalho para os RHs, tanto para selecionar quanto para reter seus quadros. Porém, meu desconforto vem do discurso que ouço de empresários e profissionais de recursos humanos sobre a enorme dificuldade de encontrar profissionais qualificados.
Abaixo apresento alguns dados que não devem ser esquecidos para contrapor a noção de pleno emprego:
  • O Brasil manteve o 88º lugar no ranking de ensino preparado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A posição é a mesma do ano passado, em um total de 127 países de todo o mundo. Estamos atrás da Argentina, Chile e até mesmo Equador e Bolívia. Só para termos uma base comparativa, o primeiro lugar da lista é o Japão, seguido por Reino Unido, Noruega e o Casaquistão, que aparece logo à frente de França, Itália e Suíça.
  • Na matéria “Sobram vagas em cursos de escolas técnicas e universidades do Brasil”, exibida pela Rede Globo, os números são alarmantes. Sobram vagas em áreas essenciais para o momento que vivemos. Para engenharia civil, setor carente, 28% das vagas não são preenchidas; para engenharia eletrônica, 31% e, mesmo com todo o alarde do pré-sal, a engenharia de petróleo deixa vaga 52% das carteiras.
  • Para a área de TI, outra área em franca expansão, os números não são menos assustadores: em administração de redes, 62% das vagas não são preenchidas e, em análise de sistemas, há 79% de lugares sem dono.
  • Não é só isso. Muitos dos alunos abandonam a faculdade antes da conclusão e em algumas áreas a evasão chega a 50%. “O país que peneira a mão de obra e não encontra muita coisa desperdiça lugares até nas universidades públicas. Mais de 14 mil vagas não têm dono.”
  • Em função do bom momento econômico, o Brasil é percebido internacionalmente como o país das oportunidades. Além da imigração com essa expectativa, há também o retorno de brasileiros que foram para o exterior e estão retornando para aproveitar a fase. Há também muitos profissionais que são convidados a trabalhar no Brasil. Em números, isso quer dizer que algo em torno de 180 mil profissionais dos cinco continentes aportaram no país nos últimos cinco anos, de acordo com levantamentos produzidos pela Coordenação Geral de Imigração (CGI) do Ministério do Trabalho. Das 11.530 autorizações de trabalho concedidas no primeiro trimestre deste ano – um volume recorde para o período -, 60% foram direcionadas a estrangeiros com diploma universitário, mestrado, doutorado e até PHD. Além disso, 80% dos vistos eram vinculados a funções técnicas ou a projetos de transferência de tecnologia.
  • O Brasil tem um dos piores índices de proficiência em inglês do mundo, como indica pesquisa da escola e agência de intercâmbios Education First (EF). O resultado é facilmente confirmado em entrevistas de seleção. Aliás, fala-se mal também o português, pois a dificuldade para se expressar corretamente em nosso idioma, verbalmente ou por escrito, está ficando cada vez mais evidente.
Minha preocupação é que, para muitas posições, são contratados profissionais sem a devida qualificação e, além disso, as contratantes não se preocupam em formar, treinar e desenvolver essas pessoas. Custa caro, mas custará mais caro a médio prazo. Dados de pesquisa da Dom Cabral mostram que 54% das companhias reduziram os requisitos na contratação de pessoal para a área técnica e operacional. Nos cargos estratégicos, 28% das empresas também diminuíram as exigências, como pós-graduação, fluência em idiomas e experiência.
Hoje, já pagamos preço alto pela falta de visão e interesse pela educação. Corremos o risco de um colapso, abreviando o Princípio de Peter, termo cunhado por Lawrence Johnston que afirma que “em um sistema hierárquico, todo funcionário tende a ser promovido até o seu nível de incompetência”. Se as contratações já estão abaixo das exigências mínimas, essa incompetência chegará muito antes das possíveis promoções que o profissional poderá ter – ou pior, já estará ocupando uma posição em alto grau na escala hierárquica sem a competência necessária para isso.
Há, infelizmente, indícios que estamos muito próximos de confirmar minha tese. Um estudo indicando que as obras de nove dos 13 aeroportos que serão utilizados na Copa do Mundo 2014 não ficarão prontas até o início da competição.
Felizmente, há empresas responsáveis e profissionais conscientes que não retratam a afirmação de abertura deste artigo. Há vagas que ficam abertas por muitos meses, para desgosto e desagrado de gestores e de muitos profissionais de RH. Baixar o nível de exigência não é a solução. Quantos postos de trabalho e oportunidades teremos que perder até que a lição seja aprendida?
Comentário da Cláudia
Infelizmente com a  deficiência no ensino fundamental e a falta de incentivo por meio das empresas ampliam a chamada “cultura escolar”  que observamos hoje. Pelo lado das empresas, há  a falta de recurso e parceiros para este incentivo, além do medo oculto de gastar um a dois anos preparando um profissional e ele buscar novos salários na empresa concorrente. Diante disso,  encontramos os jovens recém formados que inexperientes buscam sua primeira oportunidade de emprego. Ao contratar “qualquer um”,  é bem possível que se tenha ao final uma surpresa agradável. De qualquer forma, além de ser uma medida necessária a curto prazo, é muito mais simples do que buscar soluções dentro de nosso atual contexto educacional.

Nenhum comentário:

Postar um comentário